domingo, 7 de agosto de 2011

Heterossexualidade Política

Heterossexualidade Política
Por Douglas Celente
http://www.parasaber.com.br/textos/heterossexualidade-politica/


O assunto em pauta é a aprovação do Dia do Orgulho Hétero da cidade de São
Paulo.
A proposta, liderada pelo vereador Carlos Apolinaro, tem por objetivo, segundo ele
próprio, "conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes".
Ora, isso me deixa em um beco sem saída, visto que a proposta não parece se
adequar aos valores que tomo por princípios em minha vida. Pois, se não, vejam:
Não faz parte dos meus bons-costumes, ensinados a mim por meus pais e pela
vida:
1. juntar amigos para gritarmos juntos aos domingos (e outros dias, ultimamente,
se é que me entendem), incomodando toda a vizinhança.
2. discriminar pessoas que têm pontos de vista ou estilos de vida diferente dos
meus.
3. desmoralizar, insultar e tentar negar direitos a minorias constituídas pessoas
honestas. Direitos, esses, que a priori já abrange estas pessoas.
4. Pregar fazendo uso de monólogo, não aceitando críticas ou réplicas.
5. Coagir pessoas a terem o mesmo ponto de vista que eu, fazendo uso de
ameaças que envolvem tormento e tortura eternos.
6. Julgar pessoas segundo regras de um manual, se eu mesmo não sigo outras
regras do mesmo manual.
7. Matar em nome de minhas crenças.
8. Pregar "verdades" que eu mesmo não conheço a fundo, ou que minha mente
"não possa compreender".
9. Acreditar que ética e moral são princípios comuns a toda a humanidade, em
todas as épocas.
10. Fazer uso das minhas crenças baseadas em fé para influenciar os regulamentos
de uma ou mais nações.
Isso dito, e baseando-me em recentes acontecimentos envolvendo a contenda
entre adeptos do movimento GLBT, religiosos e conservadores, tendo a crer que essa
proposta não fica distante daquela que originou a recente parada dos religiosos contra,
segundo eles, não os homossexuais, mas sim contra o homossexualismo (pura semântica,
eu sei, mas deixemos isso, por ora). Sendo assim, tendo a entender que, como bem disse
uma apresentadora de televisão há pouco, a data proposta por Apolinaro deveria ter seu
nome alterado para "O DIA DO ORGULHO HOMOFÓBICO".
Digo isso porque, hetero que sou, não me sinto contemplado pela proposta do
ilustre vereador, e creio que o mesmo se passe com muitos paulistanos (não moro na
cidade em qustão). Pelo contrário, vai contra muitos de meus princípios, valores e bonscostumes,
e sinto que minha "categoria" é insultada com uma data desnecessária e
despropositada como a que está em questão.
Em suma, acredito que deveria haver um plebiscito sobre o assunto, de forma que
a população, principalmente os heterossexuais, se manifeste quanto à aprovação ou veto
da proposta do senhor Carlos Apolinaro. Proponho, inclusive, que a votação seja aberta a
maiores de 16 anos. Dessa forma saberemos com que parâmetros nossa sociedade avalia
a questão da equidade de direitos dos cidadãos, além de responsabilizar cada pai e mãe da
cidade por eventuais crimes contra seus filhos homossexuais no futuro.

Douglas Celente

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